Buraco


Ainda podia senti-lo, não tinha como saber se ainda vivia ou se estava em meu leito eternal. Distante o som do vento e luzes apagadas em cada olhar. Não poderia pensar em paz de espírito se ofegava a minha própria vida ao ninguém, talvez houvesse um alguém, no indecifrável longe. Desespero. Abismo, o meu, dentro da alma. Despencara da maior ilusão que a angústia nunca havia provado anteriormente - solidão. Percebi que ainda vivia, mas as suas particulas se moviam intensamente em minhas veias, queimando como fogo, adoecendo minha fantasia. Os objetos não tinham mais formas completas, tudo estara metade, como a vida feita de ódio. A paródia particular começara. Um último teor se formara, mais forte, como a minha transpiração de gelo estava se desfazendo por ser a dose mais possante. Já pudera perceber todos os olhares em volta e o negro nas vestes, nos rostos de meus senhores e ex-amores. As palavras celestiais pregadas pelo sacerdote, a última corda vocal antes do silêncio absoluto. Eu estava em meu buraco, na última página em que não há continuação da história, interrompida por uma seringa. As taças de champanhes vazias e a certeza de que nunca mais veria as minhas meias bagunçadas ou sentir algum resquício de emoção. Em coma eterno repousei e deixei os meus dias seguirem um rumo diferente do meu, só me resta o gosto de seu veneno que ficará em mim até que a carne apodreça ficando apenas o oco frágil. Uma tarde que encerrara e em mim ficara o remorso inalterável de meu erro fatal.

2 Comments:

  1. prii santos . said...
    grande amor .
    Anônimo said...
    Este comentário foi removido pelo autor.

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